Estilo de vida é o principal definidor da longevidade

20170406 00 Idosos Exercicio

Mais do que os genes, exposições ambientais, incluindo o estilo de vida, são as principais causas de envelhecimento e morte prematura, segundo um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido. A pesquisa, publicada na revista Nature Medicine, avaliou a influência de 164 fatores externos e do risco genético em 22 doenças associadas à longevidade em quase meio milhão de pessoas. 

Segundo os pesquisadores, fatores ambientais — de sedentarismo a renda familiar — explicam 17% da variação no risco de morte na população avaliada. Já a predisposição genética foi responsável por menos de 2% dos casos. Tabagismo, condições socioeconômicas e de vida, além de níveis de atividade física, tiveram o maior impacto tanto na mortalidade quanto no envelhecimento biológico. 

“Embora os genes desempenhem um papel fundamental nas condições cerebrais e em alguns tipos de câncer, nossas descobertas destacam oportunidades para mitigar os riscos de doenças crônicas do pulmão, coração e fígado, que são as principais causas de incapacidade e morte em todo o mundo“, disse, em nota, Cornelia van Duijn, professora de epidemiologia e autora sênior do artigo. “As exposições no início da vida são particularmente importantes, pois mostram que os fatores ambientais aceleram o envelhecimento no início da vida, mas deixam ampla oportunidade para prevenir doenças duradouras e morte precoce.”

Proteínas

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Os autores usaram uma medida de longevidade desenvolvida na Universidade de Oxford para monitorar a rapidez com que as pessoas estão envelhecendo, a partir de níveis de determinadas proteínas no sangue. Isso permitiu vincular exposições ambientais à mortalidade precoce. A métrica foi utilizada anteriormente para detectar mudanças relacionadas à idade em estudos do Reino Unido, da China e da Finlândia. 

A pesquisa mostra que, embora muitas das exposições individuais identificadas tenham desempenhado um pequeno papel na morte prematura, o efeito combinado desses múltiplos fatores ao longo da vida — o exposoma — explica em grande parte a variação da mortalidade antes dos 70 anos. Segundo os pesquisadores, os resultados do estudo abrem caminho para estratégias integradas para melhorar a saúde da população, identificando combinações-chave de condições ambientais associadas ao risco elevado de óbitos e doenças associadas à idade.  Austin Argentieri, principal autor do estudo, explica que a abordagem baseada no exposoma permite quantificar as contribuições relativas do ambiente e da genética para o envelhecimento. “(Essa análise) fornece uma visão abrangente dos fatores externos e de estilo de vida que impulsionam o envelhecimento e a morte prematura”, disse.

Intervenções 

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No estudo, 25 fatores não genéticos foram os que mais influenciaram o envelhecimento e o óbito antes dos 70 anos. Desses, apenas dois (etnia e altura aos 10 anos) não são modificáveis, indicando que é possível intervir precocemente.

“Nossas descobertas ressaltam os benefícios potenciais de focar intervenções em nossos ambientes, contextos socioeconômicos e comportamentos para a prevenção de muitas doenças relacionadas à idade e à mortalidade precoce.” 

Dos fatores individuais, o tabagismo mostrou associação com 21 das 22 doenças avaliadas. Inclusive, a exposição intrauterina ao cigarro pode influenciar o risco de óbito prematuro de 30 a 80 anos depois, diz a pesquisa.

“O tabagismo é o fator de risco campeão, que precisamos combater da melhor forma possível e de modo agressivo. Já sabemos por diversos estudos do seu potencial danoso e o estudo atual mais uma vez nos mostra isso”, comenta a médica geriatra Polianna Souza, cofundadora do canal Longidade. 

Rodrigo Bovolin, médico oncologista corresponsável pelo serviço de oncologia clínica do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, destaca a influência do estilo de vida em diversos tipos de câncer.

“Os principais incluem tabagismo, consumo excessivo de álcool, sedentarismo, dieta pobre em nutrientes e com baixa ingestão de fibras, obesidade, exposição à poluição ambiental, estresse crônico e exposição solar sem proteção”, lista o médico. 

Bovolin ressalta que campanhas preventivas focadas nesses fatores têm demonstrado sucesso na redução da incidência de alguns tipos de câncer.

A diminuição do tabagismo ao longo das últimas décadas, por exemplo, levou a uma queda nos casos de câncer de pulmão. Intervenções para promoção de dietas ricas em fibras e incentivo à atividade física também têm mostrado impacto na redução do risco de câncer colorretal, de mama e de próstata. Da mesma forma, campanhas educativas sobre o uso de protetor solar e a redução da exposição excessiva ao sol têm contribuído para a prevenção do câncer de pele”, observa o oncologista.

Políticas públicas são fundamentais 

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No estudo sobre envelhecimento e mortalidade precoce publicado na Nature Medicine, os pesquisadores da Universidade de Oxford descobriram que as condições socioeconômicas, como emprego, renda familiar e tipo de domicílio, estão associadas a 19 doenças. A falta de atividade física foi relacionada a 17 enfermidades na avaliação. “Nossa pesquisa demonstra o profundo impacto na saúde de exposições que podem ser alteradas por indivíduos ou por meio de políticas para melhorar as condições socioeconômicas, reduzir o tabagismo ou promover atividade física”, reforça Cornelia van Duijn, professora de epidemiologia e autora sênior do artigo

“Sua renda, código postal e histórico não deveriam determinar suas chances de viver uma vida longa e saudável. Mas esse estudo pioneiro reforça que esta é a realidade para muitas pessoas”, comenta Byran Williams, diretor científico e médico da Fundação Britânica do Coração, que não participou da pesquisa. ‘Há muito tempo sabemos que fatores de risco como fumar afetam nossa saúde cardíaca e circulatória, mas a nova pesquisa enfatiza o quão grande é a oportunidade de influenciar nossas chances de desenvolver problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, e morrer prematuramente.”

Para a geriatra Polianna Souza, mesmo em idades mais avançadas é possível mudar o prognóstico, com mudanças no estilo de vida. “A gente sempre pode começar atividade física, melhorar nossa alimentação, sempre é tempo de parar de fumar, de evitar consumo de álcool. Também de fazer novos amigos e ter mais convívio social”, observa.

Fonte: Correio Brasiliense
Publicado em: 20 de fevereiro de 2025

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